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Você é um skincare maximalista?

Atualizado: 23 de jun.



OS PERIGOS OCULTOS DO EXCESSO DE PRODUTOS

Você já se pegou acumulando dezenas de produtos de skincare, empilhados no banheiro, muitos deles pela metade ou quase intocados? Se sim, você pode estar praticando o que os especialistas chamam de "skincare maximalista" – uma tendência impulsionada pelo marketing agressivo e pelo consumismo que, ironicamente, pode estar fazendo mais mal do que bem para sua pele.


O fenômeno do skincare maximalista

O skincare maximalista é caracterizado pelo uso excessivo de produtos para cuidados com a pele – muitas vezes ultrapassando 10 ou mais itens em uma única rotina. Esta tendência ganhou força com o surgimento das rotinas coreanas de 10 passos e foi amplificada por influenciadores de beleza que frequentemente apresentam "shelfies" repletas de produtos coloridos e embalagens atraentes.


De acordo com uma pesquisa recente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), o mercado de skincare no Brasil cresceu 18% apenas em 2024, movimentando mais de R$35 bilhões. Este crescimento exponencial reflete não apenas uma maior conscientização sobre cuidados com a pele, mas também um consumo muitas vezes desnecessário e potencialmente prejudicial.



OS RISCOS CIENTÍFICOS DO EXCESSO DE PRODUTOS


Comprometimento da barreira cutânea

A barreira cutânea é a camada mais externa da pele, composta por células, lipídios e proteínas que trabalham juntos para proteger o corpo contra agressores externos e manter a hidratação. Quando sobrecarregamos a pele com múltiplos produtos, especialmente aqueles com ingredientes ativos potentes ou potencialmente irritantes, podemos comprometer seriamente esta barreira.

Dr. Heather Woolery-Lloyd, dermatologista certificada e diretora de dermatologia cosmética da Universidade de Miami, explica: "A barreira cutânea leva aproximadamente 14 dias para se regenerar completamente. Quando constantemente agredida por múltiplos produtos, especialmente ácidos e retinoides, ela não tem tempo suficiente para se recuperar, resultando em uma barreira cronicamente comprometida."


Uma barreira cutânea comprometida se manifesta através de:

·         Vermelhidão e irritação persistentes;

·         Sensação de ardência ao aplicar produtos antes tolerados;

·         Descamação e ressecamento;

·         Maior sensibilidade a fatores ambientais;

·         Surgimento de dermatites e eczemas;


Interações negativas entre ingredientes

Outro risco significativo do skincare maximalista é a interação negativa entre ingredientes ativos que não foram formulados para serem usados juntos. Alguns exemplos comuns incluem:

Combinação

Consequência

Retinoides + Ácidos Esfoliantes (AHA/BHA)

Irritação severa, descamação excessiva, sensibilização

Vitamina C + Niacinamida

Potencial neutralização mútua, reduzindo a eficácia de ambos

Múltiplos ácidos esfoliantes

Sobre-esfoliação, danos à barreira cutânea

Benzoyl Peroxide + Retinoides

Oxidação do retinoide, reduzindo sua eficácia

Múltiplos produtos com fragrâncias

Aumento do risco de sensibilização e dermatite de contato

"Muitos pacientes chegam ao consultório com problemas de pele que são diretamente causados pelo uso de produtos incompatíveis entre si", afirma a Dra. Ranella Hirsch, dermatologista certificada e ex-presidente da American Society of Cosmetic Dermatology. "Eles estão essencialmente criando 'coquetéis' de ingredientes ativos sem entender as potenciais interações negativas."


Microbioma cutâneo desequilibrado

O microbioma da pele – o ecossistema de microrganismos que vive na superfície cutânea – desempenha um papel crucial na saúde e proteção da pele. Pesquisas recentes publicadas no Journal of Investigative Dermatology mostram que o uso excessivo de produtos, especialmente aqueles com conservantes antimicrobianos e surfactantes agressivos, pode perturbar significativamente este delicado equilíbrio.


Um microbioma desequilibrado pode levar a:

·         Maior suscetibilidade a infecções;

·         Inflamação crônica de baixo grau;

·         Exacerbação de condições como acne, rosácea e dermatite;

·         Cicatrização mais lenta;

·         Envelhecimento prematuro;




Sinais de alerta: sua pele está sobrecarregada?

Como identificar se você está sofrendo os efeitos do skincare maximalista? Fique atento a estes sinais:

1.      Sensibilidade aumentada: Produtos que antes não causavam desconforto agora provocam ardência ou formigamento.

2.      Textura irregular: Aparecimento de pequenas protuberâncias, textura áspera ou "bumpy skin" onde antes a pele era lisa.

3.      Vermelhidão persistente: Áreas de vermelhidão que não desaparecem mesmo após horas da aplicação dos produtos.

4.      Brilho excessivo sem oleosidade: Pele com aparência brilhante e tensa, indicando desidratação e irritação.

5.      Acne em locais incomuns: Surgimento de acne em áreas onde você normalmente não tem, especialmente se forem pequenas erupções uniformes.

6.      Descamação constante: Descamação que persiste mesmo com o uso de hidratantes.

7.      Maquiagem "bolinando": Produtos de maquiagem que antes aplicavam bem agora "bolinam" ou separam-se na pele.


O Ciclo Vicioso do Consumismo em Skincare

Um aspecto particularmente problemático do skincare maximalista é o ciclo vicioso que ele cria. Quando a pele começa a reagir negativamente ao excesso de produtos, a resposta instintiva é muitas vezes... comprar mais produtos!

"Vejo isso constantemente na clínica", relata a Dra. Claudia Calza, biomédica esteta especializada em tricologia. "Pacientes desenvolvem irritação por excesso de produtos, interpretam isso como um novo 'problema' que precisa ser 'tratado', e acabam comprando mais séruns, cremes e tratamentos, agravando ainda mais a condição original."

Este ciclo é alimentado por:


  • Marketing baseado no medo

    Marcas frequentemente utilizam táticas de marketing que criam inseguranças e medos relacionados ao envelhecimento, manchas, poros, textura e outros "problemas" que muitas vezes são características normais da pele humana.

  • Cultura do "Skincare Shelfie"

    Redes sociais promovem a exibição de coleções extensas de produtos como símbolo de status e autocuidado, incentivando a compra por impulso e o acúmulo desnecessário.

  • Lançamentos constantes

    A indústria de beleza opera com ciclos de lançamento cada vez mais curtos, criando uma sensação de urgência e o temor de "ficar para trás" se não experimentar o mais novo ingrediente milagroso.

  • Promessas de resultados imediatos

    Produtos são frequentemente comercializados com promessas de transformações rápidas e dramáticas, levando os consumidores a acumularem produtos na esperança de resultados instantâneos.


Impacto ambiental do skincare maximalista

Além dos danos à pele, o consumo excessivo de produtos de skincare tem um impacto ambiental significativo:

  • Resíduos plásticos: A maioria das embalagens de produtos de skincare é feita de plástico, com apenas 9% sendo efetivamente reciclado globalmente.

  • Consumo de água: A produção de cosméticos é intensiva em água, com um único frasco de creme facial podendo utilizar até 22 litros de água em sua fabricação.

  • Ingredientes problemáticos: Muitos produtos contêm ingredientes como microplásticos, silicones e conservantes que podem persistir no ambiente e afetar ecossistemas aquáticos.

  • Pegada de carbono: O transporte global de ingredientes e produtos finais contribui significativamente para emissões de carbono.


Um estudo da Zero Waste Week revelou que a indústria de beleza produz mais de 120 bilhões de unidades de embalagens por ano, a maioria das quais acaba em aterros sanitários ou nos oceanos.

Na segunda parte deste artigo, exploraremos como identificar se você está praticando skincare maximalista, como fazer uma "desintoxicação" de produtos e como construir uma rotina verdadeiramente eficaz com o mínimo de produtos necessários. Não perca!


Sobre a autora: Claudia Calza é biomédica esteta com especialização em tricologia. Defensora da beleza autêntica e sustentável, ajuda pessoas a desenvolverem uma relação saudável com sua imagem e autocuidado, sempre com base em evidências científicas e práticas seguras.


Este artigo faz parte da série sobre consumo consciente em beleza e estética. Confira também nossos artigos sobre Beauty Burnout.





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